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Análise de obra: Folds 2

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Olá pessoal do Pintarte! Hoje na análise de obras vamos falar sobre Folds 2 da Adriana Varejão. Adriana Varejão é uma artista plástica contemporânea, nascida em 1980 no Rio de Janeiro. Conhecida por suas obras esculturais que fazem o uso azulejos tradicionais portugueses e contrastam tal elemento com imagens viscerais e perturbadoras, com rachaduras por trás revelando órgãos ou azulejos ilustrando atos sangrentos. A arte causa choque e intriga, com a beleza pura e branca dos azulejos sendo corrompida com a vermelhidão da carne e sangue. 

Varejão projeta em tais obras o processo de colonialismo e miscigenação ocorrido no Brasil, usando imagens diretamente desse período ilustrando indígenas e negros, tais como a do Debret, combinando-as com a estética barroca católica, para comentar sobre a violência sofrida por esses grupos durante a história do Brasil. As rachaduras revelando o grotesco e sangrento traçam um paralelo com a construção do Brasil, fundada a base do sangue e carne daqueles oprimidos e subjugados pelos colonizadores, apenas para ser coberto pela imagem  lustrosa do português colonizador. 

Uma de suas obras mais famosas é Folds 2, uma escultura retratando uma parede lisa de azulejos brancos, que parece estar sendo derrubada para revelar tripas por trás. O chocante se mistura com o belo, com o vermelho da carnificina se organizando de uma maneira esteticamente prazerosa, vagamente lembrando o formato de flores, criando um contraste vívido e bonito com o branco total da parede. Porém, ao olhar com mais atenção, vemos a face verdadeiramente cruel da obra, expondo os intestinos e outros órgãos desfigurados por trás da parede, empacotados e quase transbordando.

É possível analisar Folds 2 de várias maneiras, com o branco do azulejo representando a pele do colonizador e a fachada do país colonizado, que passa por um processo de “embranquecimento”. A obra também possui semelhanças com uma escavação arqueológica, desenterrando a história sangrenta por trás da superfície.

Esta obra é incrivelmente relevante na realidade brasileira. Nosso país passou por uma colonização brutal, e séculos de escravidão torturosos, o Brasil foi feito com o sangue inocente destas pessoas. Apenas 132 anos atrás a escravidão foi efetivamente abolida. Embora nosso passado cruel nos pareça distante, tem pessoas vivas com bisavôs que foram escravos. Mas por conta do embranquecimento da população e cultura, além de uma extensa revisão e esquecimento histórico, deixamos essa barbárie para trás, escondendo e cobrindo-a. Andando por cidades históricas, somos maravilhados com a beleza da arquitetura colonial, das casas charmosas e igrejas exuberantes. Mas quem construiu tais edificações? Quem suou e sofreu para montar cada tijolo, cada paralelepípedo, cada azulejo?

Ao ver a arte de Adriana Varejão, imediatamente me vem à mente o Cemitério dos Pretos Novos. Em 1996, um casal decidiu reformar sua casa no bairro de Gamboa, zona central do Rio de Janeiro. Ao ser feito a sondagem do solo, encontraram várias ossadas humanas no local (aproximadamente 5 mil fragmentos), com isso, iniciou-se uma escavação arqueológica para analisar tais fragmentos e sua história. Foi descoberto que a casa deste casal anteriormente era um cemitério para escravos recém-chegados de navios negreiros, que não conseguiram resistir a viagem. O nome de local era Cemitério dos Pretos Novos, e de acordo com estimativas, mais de 6 mil corpos foram sepultados ali, e marcas nos ossos indicam a queima de corpos antes do enterro. O local se transformou em um museu e marcado como Patrimônio Cultural. 

O que torna a obra de Varejão mais assustadora é sua veracidade. Um casarão foi construído em cima de milhares de corpos de pessoas negras, apenas para ser descoberto após séculos. Há sim ecos de sofrimentos em todos nossos eventos históricos, nossas construções, nossas crenças. Ao questionar tais estruturas coloniais derrubamos a parede aparentemente pura e limpa da nossa histórias e conseguimos acessar a verdade, que embora desconfortável e horrenda, é a verdade.

 

Fontes: 

https://www.escritoriodearte.com/artista/adriana-varejao#:~:text=Adriana%20Varej%C3%A3o%20%C3%A9%20uma%20artista,come%C3%A7a%20a%20trilhar%20novos%20caminhos.

 

https://www.guggenheim.org/artwork/12735

 

http://pretosnovos.com.br/museu-memorial/cemiterio-dos-pretos-novos/

 

https://pt.wikipedia.org/wiki/Cemit%C3%A9rio_dos_Pretos_Novos

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