Análise do artista: Edward Hopper
Edward Hopper, nascido em Nova Iorque no ano de 1882, foi um artista famoso por seus retratos de vida urbana no mundo moderno, buscando captar a vida mundana e expor as emoções internas de pessoas ordinárias. As pessoas em suas pinturas normalmente estão fazendo coisas comuns como tomando café, andando de transporte público, ou conversando, com o fundo mostrando a arquitetura moderna americana da metade do século XX. As pessoas em sua pinturas parecem se mesclar com os ambientes, sendo apenas pequenos elementos comparados à cidade enorme e fria diante deles.
A maneira com qual Hopper retrata o ambiente permite passar a sensação particular de solidão e isolamento que uma cidade grande pode ter, a frieza e grandeza das estruturas e a vastidão do espaço. As pessoas em suas pinturas nunca olham diretamente para o espectador, sempre ocupados olhando para outra direção, como se estivessem contemplando algo. É como se estivessem desejando algo além daquele lugar, pensando em um mundo além. Porém apenas possuem uma pequena visão deste mundo pelas suas janelas, que ao mesmo tempo permite-os a observar a cidade e seus habitantes enquanto também separa-os, criando uma barreira de vidro para o mundo exterior.
A pintura mais famosa de Hopper, Nighthawks (1942), usa tais técnicas brilhantemente, retratando uma cena mundana de um modo estranho e misterioso. De uma distância e isolado, o espectador assiste a cena, separado pela janela do restaurante, apenas com a habilidade de observar. Vemos um típico “diner” estadunidense à noite, quase vazio e com apenas alguns clientes. Um casal está sentado lado a lado, mas não cruzam olhares. Do outro lado, um homem sozinho virado de costas o qual rosto não podemos ver. O atendente olha para a rua a fora. A luz amarelada e artificial do diner os iluminam.
Tais pequenos detalhes nos fazem questionar: Quem são eles? O que estão pensando? O que fazem eles estarem em um diner tão tarde a noite? O casal está brigado? Por que o homem está sozinho? O atendente está olhando para fora por qual motivo?
Porém, somos apenas observadores que captaram esta cena por acaso. Nunca saberemos os nomes de tais personagens, suas histórias, suas motivações.
Ao fundo do restaurante, é possível ver janelas de apartamentos, vazias porém nos lembrando da existência de outras pessoas na cidade. Será que eles também estão vendo esta cena?
Quantas vezes não nos deparamos com algo parecido em nossa cidade? Uma cena peculiar, intrigante, da qual apenas podemos observar de uma distância, uma história em andamento que nunca saberemos o início ou fim. Momentaneamente percebemos que as pessoas que habitam o mesmo espaço que nos possuem a mesma profundidade de emoções, pensamentos e ambições que nós. Não são apenas figurantes de um filme, mas sim indivíduos exatamente como nós com sua própria vida e dificuldades. Em uma cidade, embora estejamos acostumados com multidões e milhares de pessoas em volta de nós, nunca pensamos nelas como indivíduos, e mais como pessoas quaisquer, insignificantes a nosso trama pessoal.
Edward Hopper transmite perfeitamente o sentimento de estar cercado de pessoas, porém simultaneamente se sentir sozinho. Em meio a uma cidade grande e implacável, onde todos estão por si só, é fácil se sentir isolado e desconectado de contato humano. Em suas obras ele também explora como a arquitetura contribui para esta nossa separação, nos isolando da natureza e de outros humanos em nossos apartamentos.
A mensagem das obras dele está especialmente relevante durante a pandemia atual. Estamos também passando por uma espécie de isolamento em um meio urbano, embora de forma mais extrema. Como em seus quadros, vivemos separados e distantes dos outros, sempre com uma barreira entre nós, sejam janelas, carros ou máscaras. Assim, cada um vive em sua bolha, impossibilitado de se sentir parte de uma comunidade ou formar conexões significativas.
Marina Rabello Mota